O Conselho de Administração (CA) da RTP quer ser exceção ao teto salarial para os gestores das empresas públicas e enviou um pedido ao Ministério das Finanças para não ficar sujeito ao limite de 6.850 euros mensais, que os colocaria ao nível da retribuição do primeiro-ministro. A Comissão de Trabalhadores reage, dizendo que autorizar esta exceção seria «um escárnio».
Numa carta aberta ao ministro das Finanças, a Comissão de Trabalhadores da empresa comenta a notícia publicada esta quinta-feira no «Diário Económico» e considera que a administração da RTP «pede assim a V. Exa. que, na forma simbólica de vencimentos superiores, reconheça à gestão do CA mais mérito do que ao Governo e, concretamente, mais do que ao primeiro-ministro».
Na mesma missiva, a comissão que representa os trabalhadores diz que a Administração não «se encontra à altura do privilégio que agora requereu e a que outros gestores, da CGD e da Empordef, aparentemente preferiram renunciar».
Nós, que trabalhamos nesta empresa, sabemos que este CA deixou a introdução da TDT nas mãos da Portugal Telecom, parte interessada e suspeita, que viciou todo o processo. O resultado está hoje à vista, com a TDT transformada numa máquina de fazer dinheiro e não, como na generalidade dos países europeus, numa oportunidade para fazer chegar
gratuitamente mais e melhor televisão a mais públicos.
Sabemos também que o CA embarcou num processo de audimetrias que desacredita o trabalho de todos nós, que deflaciona o número de espectadores da RTP e prepara desse modo o caminho para a privatização a preço de saldo.
A CT ficou a saber do pedido «para a continuação do despesismo e das mordomias» pelo jornal e lembra que «os trabalhadores da RTP já manifestaram anteriormente o seu repúdio por este desgoverno e insistiram na necessidade de fixar o vencimento máximo da empresa em 6.890 euros, tal como está previsto no Acordo de Empresa».
Os trabalhadores entregaram também ao CA, há mais de um mês, uma moção aprovada em plenário, reclamando dele que requeresse junto do Governo a abertura de uma exceção aos cortes salariais, segundo o modelo que fora seguido, entre outras empresas públicas, na TAP. «O CA não respondeu a essa pretensão dos trabalhadores e tratou, pelo contrário, de pedir uma exceção para si próprio», comenta.
«Saiba, sr. Ministro que os trabalhadores da RTP, tendo ouvido as suas recentes declarações em Washington, sobre a necessidade de uma justa repartição dos sacrifícios, consideram que um CA a receber vencimentos superiores aos do primeiro-ministro seria um escárnio para essas declarações, emitidas perante uma plateia incapaz de cotejá-las com a realidade. E seria, para o Governo, uma vergonha», conclui.
fonte:http://www.agenciafinanceira.iol.pt/